Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um em cada dez pacientes no mundo é vítima de erros relacionados à assistência, sendo a comunicação e o trabalho em equipe na saúde determinantes na qualidade da assistência ao paciente, que possibilita a investigação e soluções para prevenção dos danos. No Brasil, a comunicação efetiva é tratada como meta de segurança do paciente, que foi difundida após a publicação da Portaria Ministerial 529/2013, que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente.
A segunda Meta Internacional de Segurança do Paciente preconiza a melhoria da comunicação entre os profissionais da saúde com o objetivo de melhorar a efetividade da comunicação entre os prestadores do cuidado, assegurando que as informações verbais referentes aos pacientes sejam precisas e completas, bem como a forma de registro dessas informações, de maneira que ocorra clara e oportunamente, sem ambiguidades, com a certeza da correta compreensão por parte do receptor da informação, garantindo uma correta comunicação na transferência do cuidado.
DESAFIOS
Alguns fatores têm sido considerados cruciais para o desenvolvimento da comunicação efetiva entre os membros da equipe de assistência à saúde, tais como: contato dos olhos, escuta ativa, confirmação da compreensão da mensagem, liderança clara, envolvimento de todos os membros da equipe, discussões saudáveis de informações pertinentes, consciência situacional (compreensão do ambiente atual e capacidade de antecipar com precisão problemas futuros).
Entre os principais desafios encontrados para a comunicação efetiva no trabalho em equipe da saúde, destacam-se: a diversidade na formação dos profissionais, em que o treinamento para comunicação pode diferir entre os indivíduos; a tendência de uma mesma categoria profissional se comunicar mais uns com os outros; e o efeito da hierarquia, geralmente com o médico ocupando posição de maior autoridade, situação que pode inibir os demais membros da equipe interdisciplinar. Ademais, a literatura tem enfatizado a rigidez da hierarquia, que não permite criar um canal de comunicação efetiva com os diferentes níveis hierárquico, pois, não proporciona o compartilhamento das necessidades e os erros não são expostos claramente pelos profissionais.
Desse modo, é primordial o desenvolvimento de programas estruturados de treinamento de habilidades de comunicação, dos profissionais envolvidos diretamente (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas) e indiretamente (gestores, agentes administrativos) com o cuidado de saúde do paciente. Tais programas proporcionam melhorias no desempenho e na comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar.
COMUNICAÇÃO ENTRE AS EQUIPES
Estudos têm demonstrado que o trabalho realizado em equipe resulta em maior produtividade, melhoria na comunicação e na tomada de decisões. Além disso, proporciona aos profissionais melhora da autoestima, bem-estar psicológico e apoio social. Neste aspecto, nos últimos anos, intervenções têm sido desenvolvidas, implementadas e avaliadas para melhorar o trabalho em equipe e a comunicação. Inúmeros gestores e lideranças têm se apoiado em técnicas de treinamento em equipe baseada em simulações multidisciplinares, enfatizando temas como liderança, consciência situacional, apoio e confiança mútua, comunicação e o papel de cada membro na equipe. Tais técnicas têm sido desenvolvidas para mitigar ou detectar erros, aperfeiçoar habilidades de trabalho em equipe, treinar/ensaiar procedimentos complicados e identificar lacunas de conhecimento dos profissionais relacionados à sua área de atuação profissional.
Neste sentido, é imprescindível estabelecer um canal de comunicação efetiva desde a identificação do risco ou incidente crítico, evitando, assim, a ocorrência do evento adverso e dos danos por ele gerados. Assim, não se deve estimular apenas a notificação do evento adverso grave, mas também dos riscos, de suas causas e das estratégias implementadas para seu tratamento.
Por: Madeleine Ramos
REFERÊNCIAS
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BR). Gerência de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde. Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde. Assistência segura: uma reflexão teórica aplicada à prática. 2. ed. Brasília, DF: Anvisa, 2017
BARCELLOS, G.B. Comunicação entre os profissionais de saúde e a segurança do paciente. In: SOUSA, P., and MENDES, W., orgs. Segurança do Paciente: criando organizações de saúde seguras [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2014, pp. 139-158. Vol. 2. ISBN: 978-85-7541-594-8. Available from: doi: 10.7476/9788575415948.0009. Also available in ePUB from:http://books.scielo.org/id/vtq2b/epub/sousa-9788575415948.epub.
Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil; Brasília, DF; 2013 [citado 2018 jul 10]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html. Acesso em: 11 de mar. 2020.